terça-feira, 22 de julho de 2014

Dunga? Éééééé... Vamos esperar pra ver.

Passada mais de uma semana do fim da Copa do Mundo, o Brasil que fala futebol só se debate praticamente uma coisa: o que se deve fazer para nosso futebol ser considerado um dos melhores do mundo. Para isso, muito se foi debatido em programas esportivos, conferências, rodas de amigos e mesas de bar. Técnico nacional, estrangeiro ou extraterrestre, o importante é que se trabalhe não só a seleção principal, mas também as de base, assim como os clubes, que são os grandes celeiros de craques do futuro.

Para isso, até a comissão que era dita "permanente" da seleção, como o médico José Runco e o diretor de comunicação Rodrigo Paiva, estes os quais estavam a mais ou menos 15 anos na CBF, foram colocados para fora. Gilmar Rinaldi, ex-goleiro do Flamengo, São Paulo e seleção, foi colocado como coordenador-geral de seleções. Um nome pra lá de questionado, visto que a única experiência como dirigente de futebol foi uma fracassada passagem pelo Flamengo, o qual criou briga com Romário, estrela do time na época, a qual alastra um rancor até hoje do baixinho. Um nome que foi citado e seria uma boa para tal cargo é o de Leonardo, que foi dirigente na Itália e na França, conhece futebol europeu e poderia ser de mais utilidade ao esquete brasileiro.

E agora, o nome para comandar o Brasil nos próximos anos, o novo técnico da seleção é... Dunga


É... não é lá o nome que esperávamos. 

Não creio que Dunga é o nome certo pra tão sonhada e falada "renovação". Nesses 4 anos entre uma passagem e outra pelo comando do Brasil, não sei se ele estudou sobre ser técnico, sobre treinamentos, táticas, estilos de jogo, jogadas ensaiadas e outros requisitos básicos para ser técnico de futebol. Contra ele, ainda também temos o fato de sua teimosia, de ter seu "grupo fechado" entre a Copa das Confederações de 2009 e a Copa do Mundo de 2010. Com isso, deixou de fora nomes que despontavam no cenário nacional, como PH Ganso e Neymar, que eram quase que unanimidade na boca dos brasileiros para a Copa daquele ano, para levar jogadores como Grafite, Josué e Kléberson, que pouco contribuíram para a seleção naquele ano. 

Mas se pararmos para pensar bem, seu trabalho não foi de todo mal. Em 2007, ganhou uma Copa América com um time que todo mundo achava mediano, e metendo na final um 3x0 em cima de uma Argentina que vinha sendo considerada o "bicho-papão" da época. Lembro que vi esse jogo com alguns amigos, no antigo Chicken-In, na Prudente de Moraes. De umas 7 a 10 pessoas que lá estavam, apenas UMA tinha colocado vitória do Brasil num bolão que fizemos. 


Em 2008, ele falhou nas Olimpíadas, ok. Mas vamos parar um pouco e analisar a situação: Até chegar na semifinal, o Brasil não havia tomado gol. Nas semi, um confronto com a Argentina, a qual tinha uma geração bem melhor que a nossa. Para termos uma noção, pesquisei e vou colocar os 18 convocados do Brasil e da Argentina das Olimpíadas de 2008 e os 23 da Copa do Mundo desse ano:


Temos 9 campeões olímpicos pela albiceleste que foram pro mundial, contra apenas 5 medalhistas de bronze brasileiros. Pra piorar a comparação, essas eram as escalações de Brasil x Argentina na semifinal das Olimpíadas, e em negrito, destaquei os jogadores que foram titulares em pelo menos 3 dos 7 jogos que cada seleção fez na Copa desse ano:

ARGENTINA: Romero; Garay, Monzon, Zabaleta e Pareja; Gago, Mascherano, Di Maria e Riquelme (Sosa); Messi e Agüero.

BRASIL: Renan; Rafinha, Alex Silva, Breno e Marcelo; Lucas, Hernanes (Thiago Neves), Anderson e Diego (Jô); Ronaldinho Gaúcho e Rafael Sóbis (Alexandre Pato).  

Ou seja, dos 5 brasileiros que estavam nas duas seleções, só 2 vingaram mesmo como titulares na Copa do Mundo. Já na Argentina, dos 9 hermanos, 8 foram titulares, e talvez só não teve todos titulares porque Agüero e Lavezzi são da mesma posição. Ele tem uma parcela de culpa na convocação, mas acho que não precisamos de mais fatos pra comprovar que a safra portenha de jovens jogadores era de fato melhor que a nossa.

Em 2009, obtemos a classificação para o Mundial de 2010 com estilo: metendo um 3x1 na Argentina - praticamente uma freguesa na "Era Dunga" -, em plena Rosário, num estádio estilo "caldeirão", com a torcida bem perto do gramado. Sem contar que além de afundar nossos hermanos, foi a classificação mais antecipada do país para um Mundial, com 3 rodadas de antecedência.


E não esqueçamos da Copa das Confederações, a qual o time jogou bem, inclusive metendo um sonoro 3x0 na Itália, construído ainda no primeiro tempo, e uma virada extraordinária na final contra os EUA. Mas como Copa das Confederações sempre engana a seleção campeã, ou no mínimo pode ser considerada como "pé-frio"...



Daí veio a Copa do Mundo de 2010, e todos sabem o que aconteceu. Algumas boas apresentações, principalmente diante o Chile. Mas o problema consistia no banco de reservas, o qual não tínhamos. Tínhamos um bom time titular, com o trio Kaká, Robinho e Luís Fabiano inspirado e entrosado desde as eliminatórias. Mas quando precisava-se de uma peça de reposição, não tinha. Se pararmos pra pensar, o jogo contra Holanda foi ruim sim, mas temos que dar méritos pra Laranja também, que tinha uma ótima geração (Sneijder, Van der Vaart., Van Bommel, Van Bronckhorst, Robben etc.).

Bem, Dunga não é lá das melhores opções. Ele não significa renovação e talvez continue o mesmo teimoso que demonstrou ser. Mas Dunga tem o estilo "linha dura", sabe levar com pulso firme uma seleção. Afinal, ele já chamou Alex Escobar de "cagão de merda" e barrou a entrada de Fátima Bernardes na concentração. Ou seja, ele tem peito pra bater com a Globo, esse grande paradoxo que cobra treinamentos do time, mas visita tanto a seleção com seus programas - Encontro, Caldeirão do Huck, Esquenta e afins - que mal o deixa treinar. E a Globo não esconde que não gosta dele. Mas quem disse que ele liga pra isso? Isso, no meu ver, é um ponto positivo do gaúcho.

O que podemos esperar é que o "novo velho" técnico consiga "blindar" a seleção como fez antes, que tenha aprendido com os erros de 2010, e consiga comandar a seleção de uma forma digna, que faça jus à toda nossa história no futebol. Não creio que Dunga seja a melhor da opção de treinador do Brasil; mas ele, com certeza, não é a pior delas. Longe disso, tem possibilidade de fazer um bom trabalho. Sucesso, Dunga.

terça-feira, 8 de julho de 2014

Cicatrizes

É muito fácil cantar "sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor" num pré-jogo, ou no começo do jogo. É muito fácil cantar o hino todo à capela, berrando a plenos pulmões. Mas e agora, depois do Brasil tomar 7 x 1... cadê seu patriotismo? Por que ficar fazendo baderna na rua e queimando bandeira agora? Deixou de ser brasileiro por causa de uma derrota? Vai deixar de ser brasileiro agora?




Desde o começo da preparação, eu comento: a preparação do Brasil é horrível! Um dia é Luciano Huck visitando a Granja Comary. No outro, o pessoal do Esquenta. No outro, Ana Maria Braga. Toda semana tinha uma "invasão global" no CT. Todos repórteres que acompanhavam as seleções diziam que o Brasil treinava pouco se comparado a outras grandes potências do futebol, como a Alemanha. E isso é visto nos jogos. Em nenhum jogo o Brasil jogou bem, é só parar para analisar. Chegamos nas semifinais mais pela raça do que pelo conjunto técnico/tático mesmo. Chegamos numa disputa de pênaltis que o CAPITÃO DA EQUIPE não quis nem ver, muito menos apoiar os batedores escolhidos. Perdemos, por lesão, o melhor jogador do time, o qual talvez fosse nossa única jogada de ataque durante a Copa do Mundo. Insistiu-se num centroavante que não chutava, não passava, não fazia nada; estava lá como um espectador muito privilegiado. Não tínhamos tática, não tínhamos liderança, não tínhamos foco. 

A Alemanha, por sua vez, desde o começo da Copa, de acordo com Gustavo Hoffman, jornalista da ESPN Brasil e que acompanhou a seleção germânica desde antes dela chegar no Brasil para a Copa, só teve UMA folga em todo esse tempo. O foco era total no torneio, foco em ganhar. Coisa que nossa seleção, no meu ver, não teve. Ninguém parece lembrar que do outro lado tem uma seleção tri-campeã mundial, com talvez uma das melhores gerações da sua história. Uma seleção muito obediente taticamente, com a base titular toda jogando junta num mesmo time, e que sua base de um modo geral vem desde a Copa do Mundo da África do Sul, em 2010. 

Mas nem por isso, nem se o Brasil perdesse por 18 x 0, iria deixar de torcer. Seleção de futebol, vôlei, basquete, ping pong, peteca... Uma coisa é você ficar puto, xingar jogador A, B, C, ..., Z, o técnico e até o roupeiro; outra coisa é você esquecer todo o patriotismo que você mostrou nesse último mês por causa de um 7 x 1. É vergonhoso? É, claro. Mas como PVC, outro jornalista da ESPN Brasil, diz: "um time vencedor se faz com cicatrizes." Essa cicatriz foi feita com força, é uma cicatriz grande, feia e que vai demorar muito pra fechar. Mas um dia, fecha. Um dia, tudo isso vai ser levado mais a sério. Tudo tem seu recomeço, e a hora de recomeçar todo um projeto é agora.