Passada mais de uma semana do fim da Copa do Mundo, o Brasil que fala futebol só se debate praticamente uma coisa: o que se deve fazer para nosso futebol ser considerado um dos melhores do mundo. Para isso, muito se foi debatido em programas esportivos, conferências, rodas de amigos e mesas de bar. Técnico nacional, estrangeiro ou extraterrestre, o importante é que se trabalhe não só a seleção principal, mas também as de base, assim como os clubes, que são os grandes celeiros de craques do futuro.
Para isso, até a comissão que era dita "permanente" da seleção, como o médico José Runco e o diretor de comunicação Rodrigo Paiva, estes os quais estavam a mais ou menos 15 anos na CBF, foram colocados para fora. Gilmar Rinaldi, ex-goleiro do Flamengo, São Paulo e seleção, foi colocado como coordenador-geral de seleções. Um nome pra lá de questionado, visto que a única experiência como dirigente de futebol foi uma fracassada passagem pelo Flamengo, o qual criou briga com Romário, estrela do time na época, a qual alastra um rancor até hoje do baixinho. Um nome que foi citado e seria uma boa para tal cargo é o de Leonardo, que foi dirigente na Itália e na França, conhece futebol europeu e poderia ser de mais utilidade ao esquete brasileiro.
E agora, o nome para comandar o Brasil nos próximos anos, o novo técnico da seleção é... Dunga.
É... não é lá o nome que esperávamos.
Não creio que Dunga é o nome certo pra tão sonhada e falada "renovação". Nesses 4 anos entre uma passagem e outra pelo comando do Brasil, não sei se ele estudou sobre ser técnico, sobre treinamentos, táticas, estilos de jogo, jogadas ensaiadas e outros requisitos básicos para ser técnico de futebol. Contra ele, ainda também temos o fato de sua teimosia, de ter seu "grupo fechado" entre a Copa das Confederações de 2009 e a Copa do Mundo de 2010. Com isso, deixou de fora nomes que despontavam no cenário nacional, como PH Ganso e Neymar, que eram quase que unanimidade na boca dos brasileiros para a Copa daquele ano, para levar jogadores como Grafite, Josué e Kléberson, que pouco contribuíram para a seleção naquele ano.
Mas se pararmos para pensar bem, seu trabalho não foi de todo mal. Em 2007, ganhou uma Copa América com um time que todo mundo achava mediano, e metendo na final um 3x0 em cima de uma Argentina que vinha sendo considerada o "bicho-papão" da época. Lembro que vi esse jogo com alguns amigos, no antigo Chicken-In, na Prudente de Moraes. De umas 7 a 10 pessoas que lá estavam, apenas UMA tinha colocado vitória do Brasil num bolão que fizemos.
Em 2008, ele falhou nas Olimpíadas, ok. Mas vamos parar um pouco e analisar a situação: Até chegar na semifinal, o Brasil não havia tomado gol. Nas semi, um confronto com a Argentina, a qual tinha uma geração bem melhor que a nossa. Para termos uma noção, pesquisei e vou colocar os 18 convocados do Brasil e da Argentina das Olimpíadas de 2008 e os 23 da Copa do Mundo desse ano:
Temos 9 campeões olímpicos pela albiceleste que foram pro mundial, contra apenas 5 medalhistas de bronze brasileiros. Pra piorar a comparação, essas eram as escalações de Brasil x Argentina na semifinal das Olimpíadas, e em negrito, destaquei os jogadores que foram titulares em pelo menos 3 dos 7 jogos que cada seleção fez na Copa desse ano:
ARGENTINA: Romero; Garay, Monzon, Zabaleta e Pareja; Gago, Mascherano, Di Maria e Riquelme (Sosa); Messi e Agüero.
BRASIL: Renan; Rafinha, Alex Silva, Breno e Marcelo; Lucas, Hernanes (Thiago Neves), Anderson e Diego (Jô); Ronaldinho Gaúcho e Rafael Sóbis (Alexandre Pato).
Ou seja, dos 5 brasileiros que estavam nas duas seleções, só 2 vingaram mesmo como titulares na Copa do Mundo. Já na Argentina, dos 9 hermanos, 8 foram titulares, e talvez só não teve todos titulares porque Agüero e Lavezzi são da mesma posição. Ele tem uma parcela de culpa na convocação, mas acho que não precisamos de mais fatos pra comprovar que a safra portenha de jovens jogadores era de fato melhor que a nossa.
Em 2009, obtemos a classificação para o Mundial de 2010 com estilo: metendo um 3x1 na Argentina - praticamente uma freguesa na "Era Dunga" -, em plena Rosário, num estádio estilo "caldeirão", com a torcida bem perto do gramado. Sem contar que além de afundar nossos hermanos, foi a classificação mais antecipada do país para um Mundial, com 3 rodadas de antecedência.
E não esqueçamos da Copa das Confederações, a qual o time jogou bem, inclusive metendo um sonoro 3x0 na Itália, construído ainda no primeiro tempo, e uma virada extraordinária na final contra os EUA. Mas como Copa das Confederações sempre engana a seleção campeã, ou no mínimo pode ser considerada como "pé-frio"...
Daí veio a Copa do Mundo de 2010, e todos sabem o que aconteceu. Algumas boas apresentações, principalmente diante o Chile. Mas o problema consistia no banco de reservas, o qual não tínhamos. Tínhamos um bom time titular, com o trio Kaká, Robinho e Luís Fabiano inspirado e entrosado desde as eliminatórias. Mas quando precisava-se de uma peça de reposição, não tinha. Se pararmos pra pensar, o jogo contra Holanda foi ruim sim, mas temos que dar méritos pra Laranja também, que tinha uma ótima geração (Sneijder, Van der Vaart., Van Bommel, Van Bronckhorst, Robben etc.).
Bem, Dunga não é lá das melhores opções. Ele não significa renovação e talvez continue o mesmo teimoso que demonstrou ser. Mas Dunga tem o estilo "linha dura", sabe levar com pulso firme uma seleção. Afinal, ele já chamou Alex Escobar de "cagão de merda" e barrou a entrada de Fátima Bernardes na concentração. Ou seja, ele tem peito pra bater com a Globo, esse grande paradoxo que cobra treinamentos do time, mas visita tanto a seleção com seus programas - Encontro, Caldeirão do Huck, Esquenta e afins - que mal o deixa treinar. E a Globo não esconde que não gosta dele. Mas quem disse que ele liga pra isso? Isso, no meu ver, é um ponto positivo do gaúcho.
O que podemos esperar é que o "novo velho" técnico consiga "blindar" a seleção como fez antes, que tenha aprendido com os erros de 2010, e consiga comandar a seleção de uma forma digna, que faça jus à toda nossa história no futebol. Não creio que Dunga seja a melhor da opção de treinador do Brasil; mas ele, com certeza, não é a pior delas. Longe disso, tem possibilidade de fazer um bom trabalho. Sucesso, Dunga.
O que podemos esperar é que o "novo velho" técnico consiga "blindar" a seleção como fez antes, que tenha aprendido com os erros de 2010, e consiga comandar a seleção de uma forma digna, que faça jus à toda nossa história no futebol. Não creio que Dunga seja a melhor da opção de treinador do Brasil; mas ele, com certeza, não é a pior delas. Longe disso, tem possibilidade de fazer um bom trabalho. Sucesso, Dunga.